quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

beleza /morfologia e temperamento / funcionalidade







Portanto antes de mais o que representa cada um destes termos, tendo em conta que cada "génio" terá a sua perspectiva e eu como qualquer outro vou lançar a minha posta de pescada.


Beleza diria que significa "exposições de beleza " exposições essas que são julgadas muitas vezes por juízes que julgam acima de 10 raças e têm como todos nós uma perspectiva muito pessoal sobre o que é um Cane corso (na melhor das hipóteses, visto alguns nem isso terem e se sentirem muito confusos em relação á falta de homogeneidade que encontram) exposições de beleza são também muitas vezes influênciadas por handlers ou mesmo por dono influentes no mundo das mesmas.


Morfologia é por sua vez a procura de características morfológicas  ou mais propriamente o aspecto físico e a composição fisiológica  do  cão em si que no que diz respeito a uma determinada raça deverá seguir os parâmetros estipulados no estalão da mesma.


Supostamente as exposições de beleza deveriam determinar qual exemplar exposto é mais fiel ao estalão mas pelos motivos acima mencionados muitas vezes não é isso que acontece.


II parte (e  2a mais complicada) 


Temperamento e funcionalidade


Temperamento determina se o cão é num extremo medroso ( o que não quer dizer que não morda, pois poderá morder por medo)

 E do outro  extremo um cão com ojeriza.

Na minha opinião o Cane corso deveria se encontrar no centro mais para a (não intolerância, mas) indiferença a estranhos, podendo morder  caso o seu espaço físico  seja invadido.


Funcionalidade, na minha opinião varia de raça para raça, sendo que cães pastores conseguem executar um maior leque de funções por serem cães mais versáteis. Limitar o Cane corso a testes de funcionalidade apenas  à mordida é o mesmo que ter um telemóvel topo de gama e apenas testar as chamadas telefónicas.é por isso que foram criadas inúmeras modalidades desportivas que testam a inteligência do cão, mas como é óbvio, o fast food do intelectualismo cibernético canino, adora criar perguntas difíceis e  procurar  as  respostas rápidas.


Parte III


É aqui que a porca torce o rabo 😂😂😂


Como é muito difícil encontrar cães que sejam completos em todos este parâmetros, os génios da canicultura resolveram separar tudo : linha de trabalho cães funcionais com aparência dúbia... Linha de beleza, cães "bonitos" que não morderão nem ao juiz nem a um potencial comprador de cachorro.

Eu pessoalmente não acredito num sem o outro, desde sempre notei uma relação muito próxima entre tipos de morfologia e comportamentos.

Por exemplo, tipos de cabeça e tipo de pele (não pêlo), muitas vezes determinam a atitude, a inteligência do cão ou seja, se o cão se parece com um Cane corso, normalmente age como tal. Cães aboxerados não costumam ser tão inteligentes  e subtis. Quando se nota um tipo mais de Gran danois, muitas vezes demonstram medo e insegurança.

O Cane corso é como todos os cães de gado um cão que tem alguma guarda natural, e esta encontra-se nos seus genes, se os genes do cão forem maioritariamente de um bulmastiff, é natural que tenha a tendência de se comportar como tal.

Se tiver genes de mastim napolitano (que é um cão com maior resistência à dor, não será tão cauteloso como o Cane corso que é um cão que não gosta de se magoar, logo tenta ser um pouco mais calculista (logo inteligente).


Parte IV


O problema da funcionalidade.


90 % das pessoas não procuram cães funcionais nem com temperamento de cão de trabalho , as pessoas querem côr e tulitulos , cães para passear na praia e que aceitem festas de toda a gente que passe por elas na rua.

Querem cães que guardem, mas não podem morder em estranhos.

Existem cães com excelentes drives para provas como obediência e  mondioring mas o que não existe são donos para levá-los aos seus expoentes máximos, vivemos numa era em que se tornou cliché dizer que não existem cães funcionais na raça X ou y mas o que não existe na realidade é quem queira perder 1 hora  por semana a treinar um cão em vez de ir para a praia ou ver séries no dia de folga.

Gosto quando vêm dos grupos de facebook e me vêm  perguntar se tenho cães de linhagem de trabalho, mas depois, não querem esperar até aos 3, 4 meses (para testar o drive) para levar um cachorro cinza. 

sábado, 21 de novembro de 2020

Resumo dos meus 10 anos no Cane corso

 Pensamentos de um criador

Um resumo dos meus 10 anos de Cane corso. 


O cão mais cane corso que vi em Portugal foi sem dúvida "máximo de vale de touros"(tenho muita pena de não ter um fotos apenas) , já só tive o prazer de o ver com cerca de  7 ou 8 anos mas a a minha memória fotográfica não me deixa esquecer aquilo que se tornou para mim o ideal de um verdadeiro cane corso.

O máximo descendia de uma linha de sangue muito típica e  inteiramente importada pelo Jose Manuel (um verdadeiro  pioneiro e  guru da raça português) do canil Dell'antico cerberus, era possível ter uma percepção de raça observando a homogeneidade dos seus exemplares mais antigos, homogeneidade essa que foi arruinada com a introdução de um cão cinzento atípico da raça. Na altura ganhavam vida  em Portugal 2 linhas distintas  as culturas do "tipo boxer" e "cães com grandes cabeções e 70 kgs" enquanto o canil de vale de touros caia no esquecimento. Lembro-me de ver um proprietário de uma cadela de 43 kgs ser gozado num encontro de Cane corsos por ter um labrador, na altura poderia até fazer sentido, mas hoje sei que essa cadelinha ainda está viva e de boa saúde, mas sei que muitos dos Cane corsos jovens que lá estavam e que já tinham sessentas e tais kilos não duraram 5 anos. 

Lembro-me das tardes que passei com o Zé  no seu canil a conversar sobre tudo isso , conversas essas que moldaram certamente a minha trajetória e perspectiva da raça.

O canil de vale de touros era a  verdadeira catedral do Cane corso em Portugal era um local  inspirador . 

Mais tarde tive o gosto de conhecer Desmo dell Antico Cerberus que estava em Espanha no canil da Marta Garcia  e foi aí que vi o cão mais me marcou na península ibérica "Alonso" filho do desmo  e foi então  que percebi que esse teria de ser  o meu caminho, "conheci" cães como , Dante, dottore, principessa, galassia, crystal etc... estudando os pedigrees aprendi sobre Lothar, Faust e muitos outros caes que marcaram a história da raça. 

. Ao estudar a linha de cerberus tomei também  conhecimento de tantos  outros criadores  que dando continuidade à  linha de cerberus, marcaram a raça e os ringues de exposicoes com cães fiéis a mesma.

Existia a uma dada altura uma harmonia enorme entre o cão de exposição e o Cane Corso correcto e linha de trabalho(, na ótica de um amante do Cane corso tradicional as 3 são uma só) conforme cães como Dante Dell antico cerberus poderiam demonstrar, e mais recentemente "conservazionecanecorso Dell antico cerberus" e Aslan andrax gold, eros e E'india  das arenas da caparica. 

Não sei que motivos mais contribuíram para a degradação da raça .mas sei que tendências foram introduzidas na raça em Portugal, através de influências  de nuestras Hermanas nas exposições, e introdução de um ou outro cão enorme, eu diria que foi a obsessão pelo quanto maior... Melhor , ignorando tipo e morfologia. O tipo boxer não teve muita saida  em Portugal pois o cliché foi bem implementado. 

Aliado a isso foram os grupos de raça de desinformação e marketing desenfreado e as amálgamas de  experts do marketing e das recomendações cane corsianas, sedentos de sangue e que atacam sempre que avistam  um interessado em cachorros. 

Hoje em dia creio que já não há motivo nenhum para a degradação da raça, os criadores em Portugal são apenas centenas de  de pessoas a cruzar cães porque sim, "porque são nossos" "porque queremos fazer  umas coroas"  e "queremos bebés a correr pela casa" e eu compreendo perfeitamente  porque  afinal, todos temos direito a fazer as nossas cruzas tipo top 

Eu previ há 5 anos que este declínio seria inevitável a multiplicação de criadores é pura matemática , mas na realidade não está tão mal quanto eu calculei 😁

Este  texto foi um pequeno resumo dos meus 10 anos na raça, como é óbvio, muito ficou por contar 😁 nestes 10 anos conheci milhares de intervenientes, pessoas que vão e vêm, pessoas humildes que crescem e "gigantes que tombam". 

Sei que cá ando e sei que o que procuro pouco mudou.

Procuro rusticidade e funcionalidade. 

Sei que muitos não gostam desta palavra pois faz alusão ao pré recuperação mas para mim o Cane corso começou em basir. 

O Cane corso para mim é o Cane corso dos anos 90.

Procuro acima de tudo encontrar tipicidade e  homogeneidade.

Crio com  um propósito e esse propósito não é, nem nunca será satisfazer as massas de leigos desinformados.



domingo, 10 de maio de 2020

A desinformação em volta do Cane Corso

Como qualquer raça que caminha para o seu apogeu mediatico , o cane corso atravessa um processo de divulgação desenfreado e grande parte das vezes desinformação 
existe como referi inumeras vezes 3 linhas de pensamento ,

 1- aqueles que seguem o estalão estipulado pelo fci que faz alusao a cães "pos recuperação" ( escrevi varios artigos sobre a recuperação em si ) e trabalham com pedigrees FCI 
2 -pessoas que nao concordam com o pos recuperação e afirmam criar cães que não seguem o  estalão fci  e devalorizam por exemplo limites de peso , só criam cães agnatas  e aceitam qualquer tipo de cõr que não esteja estipulada no estalão.
e a 3a linha de pensamento são aquelas que trabalham pedigrees fci mas desculpam incoerentemente qualquer falta dos cães que criam com a 2ª linha de pensamento ou seja , justificam qualquer falta com a desculpa : Antes da recuperação havia cães assim .

Eu pessoalmente sigo a 1ª linha de pensamento , apesar de não concordar com a 2a aceito-a perfeitamente pois acredito que um bom cão é sempre  um bom cão e se não emitem pedigrees , podem criar o que quiserem , e já vi cães dessa linha de pensamento que se parecem mais cane corsos do  que cães com pedigree  .
no que diz respeito á 3a linha de pensamento reservo-me o direito de lhes chamar ... "vigaristas" .

No que diz respeito á desinformação ( vou me limitar a alguns pontos apesar desta não ter limites ) .
do ponto vista morfológico  é muito comum induzir em erro quem procura a raça a pensar que o cane corso é suposto pesar 60 , 65 , 70 kgs  quando na realidade o peso estipulado no estalão limita-o a 50 kgs machos , 45 kgs femeas . e qual o motivo para tal ? devido ás suas funçoes ( pastor e boieiro ) , o cane corso deve de ser relativamente ágil e com boa movimetação , um cão pastor poderia percorrer 10 km por dia em pleno clima árido do sul de itália . um cão  com 65 , 70 kgs não poderia jamais percorrer tais distâncias de forma agil e sem problemas articulares , é muito comum ver cães com pesos excessivos a passar mal por dar meia duzia de voltas a ringues de beleza ( e os handlers protestarem quando o juiz pede mais uma voltinha com medo de lhes provocar golpes de calor )( o que tambem é muitas vezes provocado por focinhos de boxer com  canas nasais muito curtas e narinas muito fechadas )  .
Que fique claro que dentro de uma linhagem de cães de peso regular poderá sempre nascer um cão com peso exccessivo , talvez até 5 kgs a mais , o que poderá ser até importante para equilibrar com femeas ou machos abaixo do peso ,mas esta deve de ser sempre a exepção á regra . mas nunca  15 , 20 kgs a mais como se vende ( a ideia ) pela internet e redes sociais .

Outra falácia que percorre as redes sociais é que o Cane Corso é o Canis Pugnax ... o cão de guerra que acompanhava as legiões romanas nas suas conquistas do imperio , ou o cão com o qual os gladiadores lutavam no coliseu romano., pois bem , é um facto que os cães da peninsula italica deverão ter esse antepassado na sua genetica , mas não quer dizer que sejam o canis pugnax , o antepassado mais proximo do cane corso ( da recuperação) é o cão de fazendeiros italianos que auxiliava na lida do gado , guarda e alguma assistência na caça , e como qualquer raça pastora ao cane corso era exigido que fosse inteligente e versatil , ao contrario do que se vende pela internet o cane corso não tem nada que se pareça com a ojeriza do fila brasileiro , o game do pit bull ou o instinto de caça de um dogo argentino .a sua inteligencia e a sensibilidade á dôr não lhe permitem esses tipos de atitude . é um cão que se foca em  defender o que mais preza , o seu dono ou o seu territorio ( a sua casa ) .conheci muitas pessoas que procuraram no cane corso aquilo quie tinham encontrado no rotweiller , fila de são miguel e brasileiro , pit bull ou dogo argentino e ficaram muito desiludidos .não quero por isto dizer que não existam cães ou linhagens de sangue que sejam exepção á regra , e que com a devida orientação quer no sentido de socialização quer no sentido oposto não se possa alterar o seu temperamento mas o cane corso é um cão de familia muito inteligente  ,facilmente socializável ( com o devido acompanhamento )  quer com estranhos quer com outros animais . a sua funcionalidade vai muito alem do morder ,o que mais me cativa nesta raça é que este consegue de forma inata perceber uma vista de um intruso .

portanto , as mentiras do ponto visto mporfologico levam a uma descaraterização da raça a nivel visual , e a desinformação do ponto de vista temperamental induzem novos donos que procuram cães ferozes de guarda ao erro,  o que leva a decepções e muitas das vezes ao abandono dos animais por não cumprirem as funçoes desejadas .